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Um conto.
A garota
E era movida por palavras. Vivia somente por isso. Ela não tinha casa, nem família, nem direção. O que a restava era sua máquina de escrever, algumas folhas e um coração, que fora machucado uma vez, mas jurara a si mesma que nunca, nunca iria se machucar de novo. E escrevia. Ela escrevia sobre amor, ódio, tristeza, solidão. Seria uma ótima bloggueira, se tivesse a oportunidade. Era a garota do futuro prendida ao passado. Vestia roupas estranhas e sapatos considerados "ultrapassados". Mas era o jeito dela. O jeito doce, puro e feliz. Quase feliz. Sabe, ela gostava de flores. Pequenas, grandes, bonitas, cheirosas, brancas, vermelhas, em botão, murchas, desenhadas por ela mesma. Eram flores. Mas a vida não se resume só a isso. Andava por estradas consideravelmente sujas, não tinha direção. Andava procurando por inspiração. As vezes, rabiscava duas ou três palavras numa folha de papel meio amassada, mas tinha cuidado ao escrever, para a tinta não acabar. Ela ainda não tivera a sorte de achar uma pena por aí. Uma vez, teve a quase sorte de encontrar uma bicicleta. Mas ouvira alguém gritar algo como "Isso é meu!" e logo depois "Burra!". Mas ela não entendia essas palavras. Nunca tivera nada, e não criticava a ninguém. Na verdade, ela era criticada por pessoas ricas por não estar na moda, ou algo assim. Chorou umas vezes, sobre a relva. E a máquina de escrever registrava tudo. Desde o choro até o adormecimento da "Bela". Mas não lhe davam crédito. Suas histórias pareciam tolas de mais para aqueles sábios ou sei lá o que. Disso ela não entendia. Na verdade, não entendia nada. Só sabia escrever. Escrever sobre seus sentimentos. E era julgada
por isso também, por alguns, por pensar com o coração. Mas era mentira, ela pensava antes com a mente, para agir com o coração. E fechava os olhos, só para sonhar um pouco. Sonhar que tinha uma família de verdade, que tinha amigos de verdade, que tinha um amor de verdade. E adormecia. Em qualquer lugar, não tinha paradeiro. E logo depois "Ops, como sonhei!". E se machucava mais um pouco. Teve um dia que sonhou que as pessoas lhe entendiam. Mas, logo depois, acordou. Tinha caído do banco do parque. E se machucou, tanto por fora, quanto por dentro. Seus joelhos ralaram, mas seu coração estava despedaçado. Tudo que sonhara era mentira. Tudo, tudo.
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Era uma vez uma menina
Que vagava sozinha pelas ruas
E ela me ensina
Que a imaginação é toda sua.
E deitada num banco de uma praça
Ou na relva, num parque
E o seu livro ela abraça
E me diz tudo o que sabe
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Capítulo 1 – A menina.
Havia uma garota deitada no chão sobre pedaços de papelão. Estava frio, chovendo. E ela estava lá, intocável. Dava para perceber que estava com frio e fome. Mordia os lábios e passava os pés um no outro para aquecê-los. Estava abraçada a um livro. Já era noite e a única coisa que ela queria era dormir.
Ao acordar, já de manhã, notara o movimento nas ruas. Encolheu-se. Estava debaixo de uma marquise de uma padaria. O cheiro de pão era tentador, mas deveria contentar-se apenas com o cheiro. Não tinha um tostão sequer.
Devem estar se perguntando ‘O que uma menina de 10 anos está fazendo nas ruas?’. Ela não tem família. Seus pais morreram há algum tempo. A única coisa que lhe restara foi o livro que sua mãe lhe dera. Ela sabia ler, muito bem por sinal, aprendera com seus pais. E escrever era sua forma de vida.
- Sua imunda desgraçada! Quantas vezes tenho que dizer para sair da frente da minha loja? – gritava o padeiro, forçando-a a sair de lá.
- Me solte! Não estou fazendo mal a ninguém! – dizia a menina.
- Não quero mais vê-la aqui! Vá embora! E rápido! Agora! – gritava o homem fora de si.
Só deu o tempo de pegar seu livro, a única lembrança de seus pais. “Alice no país das maravilhas” era o título.
Correra o mais rápido que pudera. Mas, esbarrou em uma pessoa.
- Me desculpe – disse a menina com a cabeça baixa.
- Ah, tudo bem – disse uma outra garota de rua. – Alice no país das maravilhas! É o meu favorito! – exclamou a menina.
- O meu também – sorriu, pela primeira vez, a menina.
- Meu nome é Lidia e o seu?
- Sarah.
As duas sorriram.
- Preciso levá-la a um lugar – disse Lidia.
- Para onde? – perguntou a menina Sarah, sabendo que se tratava de uma aventura.
- Ao país das maravilhas – respondeu sua nova amiga.
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